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Arsenal de Marinha contribuiu com projeção internacional do Rio de Janeiro

Arsenal de Marinha contribuiu com projeção internacional do Rio de Janeiro

Vista contemporânea do Arsenal. Crédito: Creative Commons
Arsenal de Marinha contribuiu com projeção internacional do Rio de Janeiro
Tragédia gaúcha

Estaleiro de 1763 teve importância geopolítica e geoestratégica para a Metrópole, projetando também a cidade, segundo pesquisador Nelson Pereira Mendonça Junior

A importância estratégica e simbólica do Rio de Janeiro como projeção do Brasil no cenário internacional, mais uma vez fica evidenciada na realização do encontro do G20 este ano, mas começou a ser desenhada na segunda metade do século XVIII. Contribuiu para isso a escolha da cidade para ser a nova capital da então colônia portuguesa a partir de 1763, mas outro fato decisivo no mesmo ano foi a instalação na Baía de Guanabara de um poderoso Arsenal. Conforme demonstra estudo de Nelson Pereira Mendonça Junior, a escolha do local na antiga Praia de São Bento, teve objetivos geopolíticos e geoestratégicos, que ajudaram na consolidação da centralidade do território carioca.

Essa é uma das conclusões da dissertação de mestrado, intitulada “O Arsenal de Marinha da Corte: A inserção de um estaleiro na paisagem do Rio de Janeiro”, defendida pelo militar, atualmente na reserva, no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional. Além de aprofundar conhecimentos sobre a evolução da ocupação do Arsenal às margens da Baía de Guanabara e posteriormente na Ilha das Cobras, o trabalho teve o mérito de esmiuçar a importância estratégica da localização como demonstração de força bélica e de poder de dissuasão por parte da Metrópole Portuguesa.

“Do ponto de vista geopolítico, a situação até 1763 (ano da fundação do Arsenal) esteve ao sabor de guerras dinásticas, agravada pelo fato de Portugal ter dificuldades com a França e a Espanha devido ao seu alinhamento com a Inglaterra e não por não aderir ao “pacto de família” entre as casas dos Bourbon da França, Espanha e Nápoles. Em consequência da assinatura do tratado de paz de Fontainebleau, de 10 de fevereiro de 1763, as hostilidades passaram do continente europeu para a América Meridional, gerando tensões com a Espanha no Prata (Missões, Colônia do Sacramento e Cisplatina, entre outras).”, analisou o autor.

Portanto, o ano de 1763 foi decisivo para uma série de questões envolvendo as disputas territoriais e mercantilistas em jogo entre as potências europeias da época. O escoamento do ouro de Minas Gerais pelo porto do Rio, a necessidade de fazer frente às ambições espanholas e francesas na América do Sul e a defesa da integridade do território colonial tornavam a construção do Arsenal e sua visibilidade como fatores estratégicos que se mostraram ao longo do tempo acertadas. Contribuíram também para o fortalecimento da posição da cidade.

Foi fundamental para o sucesso do projeto a diligência do primeiro vice-rei a ocupar o cargo em terras cariocas, o Conde da Cunha, que tomou as medidas necessárias para a construção do estaleiro e para arregimentar a mão de obra especializada para os primeiros trabalhos. Foi assim que o Arsenal acabou ganhando uma função dupla, atendendo as necessidades de defesa e também econômicas, pois servia de base para reparos de navios comerciais que ancoravam no porto, dando maior economicidade ao transporte marítimo e às rotas que tinham como destino o Rio.

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Assentamento da caverna mestra da Corveta Campista. Erroneamente intitulada “Batimento de quilha da barca a vapor Campista”, a gravura de Debret, (182?),
retrata o ato de assentamento da caverna mestra dessa Corveta (à vela), ocorrido provavelmente no final de 1824. Ao centro, a representação do Imperador Pedro I, erguendo um malho na cerimônia de bater a cavilha.

Fonte: BANDEIRA, Julio; LAGO, Pedro Corrêa do. Debret e o Brasil: obra completa 1816-1831. Rio de Janeiro: Capivara, 2009, p. 633, 658.

A primeira missão do Estaleiro do Arsenal foi a construção da Nau São Sebastião, lançada ao mar em 1767. Foi a primeira grande embarcação construída no Brasil e serviu de demonstração de poderio por parte do Reino Português.

“Depois do lançamento da nau São Sebastião, em 1767, o estaleiro firmou-se como um arsenal, com a reconversão dos espaços e das instalações em proveito dos navios militares e dos navios de comércio, armados ou desarmados, todos sob o controle da Metrópole. Embora as atividades fabris ficassem restritas aos reparos em navios flutuando e à construção de embarcações de pequeno porte, essa reconversão não caracterizou uma desmobilização de um arsenal de marinha, porquanto as suas estruturas foram mantidas para o que podemos denominar como eventual mobilização em escala maior”, analisa o autor.

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“Plano do Arcenal Real da Marinha do que continha no anno de 1808”.
Original da Biblioteca da Marinha

A estrutura foi ainda mais estratégica com a chegada da Família Real portuguesa à cidade, em 1808, quando o estaleiro passou a denominar-se Arsenal Real do Rio de Janeiro. Foi também época de expansão do terreno e das instalações do lugar. Mais uma vez, a presença dessa unidade fabril serviu de apoio ao sistema de defesa, como cumpriu objetivos estratégicos da Coroa, que também usou os serviços do arsenal em apoio à Marinha Inglesa.

Com o início do período republicano, o lugar perdeu a denominação Real e a partir de 1903 recebeu o nome oficial de Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. A sede das principais oficinas foi sendo transferida para a Ilha das Cobras, onde estão até hoje dividindo espaço com outros departamentos da Marinha. 

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Ilha das Cobras, onde hoje fica a sede do Arsenal. Crédito: Creative Commons

Com o tempo os trabalhos de reparo e construção de embarcações do arsenal foi ganhando maior aperfeiçoamento técnico. É quando ganha importância a supervisão de engenheiros nos processos fabris e de conservação. Segundo Mendonça Júnior, “as décadas de 1840-50 foram marcantes pela qualificação do Arsenal e, apesar do ambiente político conturbado nos anos 1840, encontramos nos relatórios da época bons resultados e iniciativas que visavam melhorias. Entre eles, o regresso em 1852 dos engenheiros que em 1848 foram enviados para aperfeiçoamento na Inglaterra, trazendo conhecimentos mais atualizados em construção naval e de máquinas que se podiam encontrar à época. De concreto e mais visíveis, estavam as obras na face norte, voltadas para as carreiras de construção e instalações mais amplas, abrigando as oficinas que identificamos na planta do Engenheiro Taulois de 1848 e nos relatórios dos Ministros da Marinha”.

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“Planta dos armazéns a casas da Junta do Comissario junto à cerca de S. Bento” ca. 1760. Fonte: Original do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU).

Esse aperfeiçoamento se fez mais sentir nas décadas seguintes, quando a navegação a vapor já era bastante difundida e começaram a ser importados equipamentos também a vapor para os trabalhos. Os engenheiros formados no exterior tiveram importância fundamental no gerenciamento da mão de obra e no aprimoramento técnico nas oficinas do Arsenal. “Portanto, houve como dar ênfase nas oficinas mecânicas para a construção de máquinas, caldeiras e seus acessórios e partes estruturais para os casos metálicos. Sob uma direção técnica e contando com a habilidade dos artífices, a produtividade alcançada se constituiu em uma vantagem na Guerra do Paraguai”, ressalta o autor.

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Corveta Barroso no Arsenal. Crédito: Creative Commons

Com base em pesquisa iconográfica e bibliográfica, e até a partir de observações de escavações feitas por conta de obras realizadas na região, constatou o autor que o posicionamento do Arsenal interferiu na paisagem da cidade, dando prestígio e imponência ao território. Foi alcançada uma visibilidade imponente para os visitantes que chegavam e para a população, colaborando com a projeção internacional do Rio de Janeiro. 

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