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Benefícios das barragens vão além da geração energética

Benefícios das barragens vão além da geração energética

Eclusa de Bom Retiro do Sul. Crédito: Prefeitura de Bom Retiro do Sul
Benefícios das barragens vão além da geração energética
Soberania Energética

Construção de reservatórios de água em rios, apesar de alguns impactos iniciais, traz ganhos permanentes no controle de enchentes e vantagens para diversas atividades econômicas

A construção de barragens para usinas hidroelétricas vem sendo atacada há décadas no Brasil, em virtude da necessidade de alagamentos de grandes áreas. Para a produção de energia, milhares de famílias são relocadas, o que passou a ser objeto de protesto por parte de ativistas. No entanto, a desistência desse modelo pode estar sendo muito mais ruinosa para a população, que perde uma série de benefícios trazidos por essas estruturas, como o controle de enchentes. O alerta foi feito pelo engenheiro Flavio Miguez de Mello, em palestra para o Conselho Diretor do Clube de Engenharia na última segunda-feira, 09/10.

A construção de grandes usinas no Brasil, entre as décadas de 1950 e 80, foi responsável pela consolidação de uma matriz energética majoritariamente renovável, de baixo custo e com relativa estabilidade para o fornecimento junto ao sistema integrado. Foi o que sustentou a urbanização e industrialização do país, mas a partir dos anos 1990 esses projetos foram sendo abandonados ou adaptados para o modelo de fio d’água, que funciona com pequenos reservatórios.

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Barragem no Arroio Duro, no Rio Grande do Sul. Crédito: Associação dos Usuários do Perímetro de Irrigação do Arroio Duro

Conforme ressaltou o professor, que é presidente honorário do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), uma das consequências dessa desistência foi o emprego de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes. Elas têm sido acionadas principalmente em períodos de estiagem, quando cai a produção hidroelétrica. Mais recentemente, o país vem incrementando a participação de outras fontes renováveis, como a eólica e fotovoltaica. Apesar do custo menor do que com a queima de combustível e de não emitirem CO2, esses tipos de geração são caracterizados pela intermitência no fornecimento, o que também tem sido um desafio para o sistema. 

Segundo o professor, as vantagens das barragens para a produção de energia já seriam suficientes para sua exploração máxima. Além da retomada da construção de novas usinas, ele defende a volta do modelo de grandes reservatórios, que dariam maior estabilidade ao sistema. Mas sua argumentação leva em conta outros benefícios trazidos pelo armazenamento de água. Ele salienta que há 22 finalidades para esse tipo de estrutura, que inclui a irrigação, o abastecimento de água, combate a secas, manutenção do lençol freático, turismo, e principalmente para a regularização dos rios. É um instrumento de prevenção contra enchentes, que é ignorado pelo país que fica sem seu aproveitamento múltiplo.

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Enchente de 1975 em Pernambuco

Além de investimentos para a construção dos sistemas de barragens, o país precisaria criar um órgão federal responsável pela regulação da vazão. Isso evitaria desequilíbrios entre estados e municípios e facilitaria a prevenção contra desastres naturais. Para se ter uma ideia, só numa chuva forte em Pernambuco em 1975, 350 mil pessoas ficaram desabrigadas, o que supera em muito o número de relocados pela construção das usinas.

“Esses desabrigados são impactos sociais muito maiores do que os relocados. Porque os desabrigados são pegos de surpresa de uma hora para outra, como atualmente no Vale do Itajaí, ou como em agosto no Rio Grande do Sul na bacia do Rio Taquari”, argumentou o professor. “O que aconteceu no Rio Grande do Sul é fácil de ser entendido quando se vê que são a fio d’água muito pequenos e, portanto, sem capacidade de reter os efeitos da cheia”, acrescentou ele, referindo-se às chuvas que deixaram dezenas de gaúchos mortos em setembro.

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Enchente de agosto de 2023 no Rio Grande do Sul. Crédito: Marinha do Brasil

E potencial para a construção de novas usinas não falta no território brasileiro, principalmente na Amazônia. Ao contrário do que muitos pensam, a superfície da região não é tão plana e possui grandes quedas d’água. A presença de reservas indígenas, segundo o palestrante, não seria empecilho, já que os empreendimentos podem ser feitos com a anuência dos povos. Segundo ele, apenas 13% do território amazônico é plano e há inclusive grandes quedas de água, algumas nos países vizinhos, que poderiam desenvolver projetos binacionais.

“A energia elétrica do brasil vem predominantemente das hidrelétricas, que dependem da gravidade e da incidência solar. Por esse motivo, a hidroeletricidade é considerada energia renovável”, afirmou o engenheiro. “Novas usinas podem funcionar como complementação das  usinas fotovoltaicas e eólicas, que são muito variáveis ao longo do dia, são intermitentes e gerar problemas para a gestão do sistema interligado”, acrescentou Miguez de Mello.

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