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Engenharia de Projetos pode viver novo boom com a retomada do desenvolvimento nacional

Engenharia de Projetos pode viver novo boom com a retomada do desenvolvimento nacional

Engenharia de Projetos pode viver novo boom com a retomada do desenvolvimento nacional
A RETOMADA DA ENGENHARIA NACIONAL

Setor, prejudicado com a crise econômica dos últimos anos, tem como desafios enfrentar a concorrência estrangeira e dar conta da transição tecnológica digital

A Engenharia está presente em todas as construções regulares, mas empreendimentos de maior porte e envergadura dependem da contribuição de um ramo específico da atividade para não haver falhas na conexão entre os diversos componentes e etapas. É a Engenharia de Projetos, dotada de uma visão mais geral, que faz o gerenciamento de grandes obras e permite maior eficiência em todos os processos até manutenção posterior. Com a perspectiva de retomada do crescimento econômico e de grandes projetos de infraestrutura, essa especialidade, depois de anos de retração e de estagnação, tende não só a crescer no país como ajudar no bom resultado de cada realização. Mas, segundo especialistas, só quem tiver feito o dever de casa da transição digital terá condições de concorrer numa nova guinada.

O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) José Rodrigues aponta que além da perda de mercado, causado pela crise econômica e o encolhimento dos investimentos públicos em infraestrutura, a Engenharia de Projetos brasileira sofreu nos últimos anos perda de espaço para firmas estrangeiras. Segundo ele, para evitar a dependência e a importação de soluções nem sempre adequadas à realidade brasileira, as firmas do país devem investir fortemente em recursos digitais e na capacitação de seus profissionais para utilizá-los. Grande parte desse processo de modernização obedece à necessidade de uso do BIM para o desenvolvimento dos projetos.

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Engenharia de Projetos pode se beneficiar da ampliação e retomada de construção de refinarias no país

A Engenharia de Projetos continua envolvida com o detalhamento, o controle sobre insumos e materiais, o comissionamento das construções, o gerenciamento da mão de obra e toda a robustez dos grandes empreendimentos, mas, para essa engrenagem atualmente ser comandada, todas as etapas precisam ser planejadas de forma digital. As empresas que se prepararem para lidar com modelos com sistemas de total interoperacionalidade terão melhores condições de competir e contribuir com a nova fase de desenvolvimento do país.

“A Engenharia de Projetos já teve momento mais pujante quando foram construídas as grandes usinas hidroelétricas, grandes ferrovias, portos e aeroportos. Além da crise econômica, a Operação Lava Jato foi responsável por um mau momento dessa atividade. Agora ela pode ter uma retomada, mas com maior automação e uso intenso de tecnologia digital”, avalia o professor. “Temos que defender visceralmente o setor e resgatar as empresas, com uso de tecnologia e conhecimento para impedir a dependência estrangeira”, ressalta José Rodrigues.

Uma boa notícia para o setor foi o lançamento feito recentemente pelo governo federal da fase 3 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3). Há a expectativa de que sejam investidos R$ 1,7 trilhão até 2026, entre recursos da União, das estatais e da iniciativa privada. Além da necessidade de se cumprir a promessa, para que haja maior pujança no crescimento econômico e a recuperação da engenharia no país, é preciso que o Estado retome sua capacidade de indução do desenvolvimento. Políticas voltadas para a educação, ciência e tecnologia, industrialização e marcos regulatórios mais modernos para os diferentes setores são fundamentais.

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Construção de Itaipu marcou época área das obras de infraestrutura. Crédito: Deni Williams/Creative Commons

Segundo o professor da Escola Politécnica da UFRJ Eduardo Qualharini, o país tem um grande potencial e há diversas áreas que podem ganhar foco com vistas à indução do desenvolvimento. Não se trata de reinventar a roda, pois a Coreia do Sul, por exemplo, com condições naturais bem menos favoráveis que o Brasil conseguiu preponderância em setores como naval, automobilístico e eletroeletrônico, enquanto o país passou até por uma desindustrialização. Não são poucas atualmente as empresas sul-coreanas que competem de igual para igual com as gigantes do mundo ocidental. O Brasil, por sua vez, teria todas as condições de ganhar pujança através de estímulos à produção energética, ao fortalecimento do sistema de transportes, às telecomunicações, bem como na área petroquímica, sem contar no saneamento básico e a habitação.

“É preciso mais do que um plano de um governo. Precisamos de planos decenais, de mais longo prazo, que recuperem a capacidade do Estado de indução do desenvolvimento. Com isso, teríamos uma Engenharia de Projetos forte, o que não interessa aos estrangeiros, em razão dela trazer o domínio de todas as etapas dos projetos”, ressalta o professor. “Temos que escolher áreas em que somos mais competentes para investirmos, inclusive em termos de capital humano”, acrescenta Qualharini.

O crescimento em solavancos e a falta de continuidade nas políticas públicas foi o que solapou a Engenharia de Projetos e com isso grande parte do capital humano também desmorona, pois o fim de empresas do setor significa a perda de conhecimento acumulado. Um exemplo que vai na contramão desse desmantelamento é o da Promon, que apesar de ter sido afetada pela redução dos investimentos em grandes empreendimentos de infraestrutura no país, continua sendo uma das principais empresas nacionais de Engenharia de Projetos

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Construção da Transnordestina é um dos maiores projetos do PAC 3

Ao contrário de outras que fecharam as portas, ela se manteve ativa, mas precisou se adaptar. No seu novo modelo, foi necessário fechar, em 2016, os dois escritórios que já teve no Rio de Janeiro e manter apenas uma sede em São Paulo. O quadro de funcionários, chegou a contar nos anos 1980 com mais de 4 mil pessoas, ficou mais enxuto nesse período, mas vem retomando o crescimento nos últimos dois anos e hoje conta com cerca de 750 colaboradores. Mas a adaptação aos novos tempos também trouxe benefícios e um preparo para a nova era digital em que a engenharia tende a ganhar até mais importância do que no passado.

Segundo o CEO da empresa, Antonio Bardella, os últimos dez anos foram  difíceis para o setor, mas foi útil para uma reformulação, que provocou uma diversificação nas áreas de atuação da Promon Engenharia. Ao contrário das décadas passadas em que a empresa se movia na esteira na construção de grandes refinarias, usinas hidroelétricas, por exemplo, de coqueluche naqueles momentos, o foco agora é mais amplo, incluindo plantas de fertilizantes, mineração, biocombustíveis, energia solar, petroquímica, entre outros, o que garante menor dependência com relação a esses ciclos. 

Mas nesses novos tempos o DNA da empresa não se apagou. Ao contrário: todo o conhecimento acumulado ao longo da história é muito bem guardado e há até um departamento voltado especificamente para a gestão de conhecimento. O compartilhamento de informações é também fundamental para a busca de melhores soluções. São ideias que muitas vezes podem gerar centenas de milhões de reais de economia na implantação e operação de novos empreendimentos, o que serve de estímulo e valoriza os avanços da engenharia.

“Hoje, nossa atuação vai do estudo de viabilidade técnica ao comissionamento da fábrica, incluindo o projeto básico ou detalhado. Estamos preparados para fazer a assistência técnica na implantação, a gestão da implantação e até a operação assistida”, diz Bardella. “Minha visão é otimista. Acredito que a engenharia do país pode ser melhor do que nunca devido às novas tecnologias e ao atual modelo híbrido de trabalho, que foi muito acelerado com a pandemia do COVID-19. Ela tem mais condições de previsão na fase de projeto básico, o que tem grande valor na manutenção da fábrica muitos anos depois da sua inauguração, por exemplo”, acrescenta o CEO da Promon Engenharia, que montou sala de realidade virtual em que clientes podem “andar” nas plantas e sugerir até alterações, reduzindo os retrabalhos de obra.

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