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Há mais de 160 anos, instituição paraense se dedica ao estudo da Amazônia

Há mais de 160 anos, instituição paraense se dedica ao estudo da Amazônia

Museu Emílio Goeldi tem rico acervo. Crédito: Luara Baggi (ASCOM/MCTI)
Há mais de 160 anos, instituição paraense se dedica ao estudo da Amazônia
Soberania Energética

Pesquisadora Ima Vieira fala ao Humanidades na Engenharia sobre o Museu Emílio Goeldi, que tem contribuído para a preservação do bioma e da cultura da região 

A Amazônia vem sofrendo duros ataques, tanto contra sua natureza quanto contra seus povos originários, mas é também notável a capacidade de resistência da região. Essa foi a conclusão da palestra da engenheira agrônoma e ecóloga paraense Ima Vieira, que contribuiu com o projeto Humanidades na Engenharia. O resultado de seu trabalho de pesquisa vem apontando para uma surpreendente capacidade de regeneração de áreas devastadas pelo homem, o que gera esperanças de sobrevivência para a biodiversidade e para o papel do bioma para o equilíbrio climático. 

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Ima Vieira aposta na ciência e nos saberes dos povos tradicionais para Amazônia ser salva. Crédito: Miguel Pinheiro/CIFOR

Ima Vieira é pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e fez um amplo apanhado do trabalho da instituição, uma das mais antigas do país.  Sua origem remonta à criação da Associação Filomática Domingos Ferreira Penna, em 1866, e grande parte das pessoas a associa ao espaço tombado que recebe muitos turistas na capital paraense. É um belíssimo parque zoobotânico que encanta visitantes e tem também importante papel educacional. No entanto, são múltiplas suas ramificações. 

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Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. Crédito: Creative Commons

Atualmente a instituição federal é responsável por sete programas de mestrado e doutorado. Seu principal campus de pesquisa está equipado com bibliotecas, coleções biológicas, laboratórios, bem como escritórios de apoio. A instituição também possui a estação de pesquisa Ferreira Penna, em plena Floresta Nacional de Caxiuanã, que contribui com a variedade de linhas de pesquisa do estado paraense, com mais de 3 mil metros quadrados de área construída.

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Estação Científica Ferreira Penna,na Floresta Nacional de Caxiuanã, no município de Melgaço (PA)

São diversos projetos que ajudam no incremento constante do volume de conhecimento produzido sobre a Amazônia, bem como com o crescimento de um robusto acervo de peças que compõem um patrimônio científico, artístico e cultural sem igual. Um dos principais setores do acervo é o Herbário, com mais de 230 mil espécies. Destaca-se também a coleção de Entomologia, com mais de 1 milhão de espécies. O Museu guarda por outro lado objetos de cunho etnográfico, que servem de registro de 12 mil anos de ocupação humana na região. O registro de dezenas de línguas indígenas é outro serviço em prol da preservação da riqueza cultural da região.

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Urnas funerárias fazem parte do acervo do museu

“Essa instituição tem auxiliado na compreensão dos processos ecológicos, na compreensão das dinâmicas sócio-ambientais, na dinâmica das populações indígenas e tradicionais e também nessas alterações que o bioma vem sofrendo com as mudanças de uso da terra e com as mudanças climáticas globais”, explicou Ima.

Mas, apesar de seus mais de 160 anos de atividade científica, o Museu e os mais de 300 campi da Amazônia ainda não deram conta de conhecer toda a região, onde se concentra 20% de toda a biodiversidade do planeta. Segundo Ima, cerca de 40% das espécies amazônicas sequer são conhecidas. Em grande parte pela falta de apoio financeiro para as pesquisas.

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Barco gaiola. Crédito: Acervo Digital Unesp

“É importante manter uma ciência forte para termos aqui na Amazônia grupos de pesquisa fortes, com financiamentos de longo prazo para que possa dar conta dessa complexidade”, frisou Ima.

A vice-presidente do Clube de Engenharia e coordenadora do Humanidades, Maria Alice Ibañez Duarte, ressaltou a necessidade de haver maior apoio para as instituições científicas da região. Ela elogiou a produtividade do Museu e sua capacidade de reunir pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. É uma vertente que se coaduna com uma procura por uma  Engenharia mais humanista, que dialoga com as ciências sociais e demais saberes. 

“A Engenharia é cada vez mais transversal que se apoia em outras ciências para ter melhores resultados, inclusive as humanidades”, afirmou Maria Alice.

Mas a preocupação com os desmatamentos ainda é forte. Vince por cento do território amazônico já foi prejudicado, principalmente pela agropecuária. A madeira extraída muitas vezes é exportada por contrabandistas. Há, portanto, uma invasão de atividades ilegais, que geram também problemas de segurança. 

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Vitórias régias no Parque Zoobotânico. Crédito: Luara Baggi (ASCOM/MCTI)

Além dessa ganância que acarreta a exploração predatória, há uma visão distorcida de que a Amazônia é um grande vazio econômico que precisa ser transformado em pasto para que a economia do país cresça. Ignora-se assim o potencial das atividades extrativistas, que geram riqueza sem derrubar a floresta. Extração de produtos para indústrias farmacêuticas e de estética, e de alimentos como açaí e castanha, são exemplos de uso econômico sustentável. A região poderia ter economia mais sustentável se esses produtos agregassem valor, sendo industrializadas nas cidades locais e comprovação de origem, conforme ressaltou o conselheiro e coordenador do projeto Humanidades, Carlos Ferreira.

“Acho que é fundamental em qualquer projeto para a Amazônia se pensar nessa dimensão, a agregação de valor aos produtos e que eles não saiam mais in natura, mas minimamente processados”, destacou Carlos Ferreira.

Além da miopia que impede a visão do real valor econômico da floresta, há a falta de atenção para os danos econômicos que as alterações climáticas podem causar para a produção agrícola e de energia, além da captação de água para o abastecimento das cidades. É uma corrida pela destruição que enxerga nos povos indígenas verdadeiros inimigos, dada a luta de setores do agronegócio contra a demarcação de reservas. Chegaram ao ponto de afrontar a Constituição com a criação do marco temporal das terras indígenas, derrabado pelo STF mas ainda em tramitação no Senado.

Ima apontou diversos projetos de reflorestamento, que estão na contramão da destruição. Apesar das vantagens de se manter a floresta em pé, não é fácil obter uma diversidade considerável nesses espaços recuperados. Mas suas pesquisas sobre a resiliência da floresta em áreas degradas tem mostrado boa capacidade de recuperação das árvores, mesmo em territórios atingidos por queimadas. O empobrecimento do solo é maior após anos de exploração agropecuária, segundo ela. 

“A Amazônia não é só importante para os amazônidas, mas para todos os brasileiros e todo o mundo, dada sua importância para o clima, para a biodiversidade e para o aporte de chuvas para o Sul e Sudeste”, alertou Ima.

Assista aqui ao programa:

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