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Novo ciclo industrial deve alavancar desenvolvimento socioeconômico do país

Novo ciclo industrial deve alavancar desenvolvimento socioeconômico do país

Crédito: Pixabay
Novo ciclo industrial deve alavancar desenvolvimento socioeconômico do país
Neoindustrialização do Brasil

Adensamento de cadeias produtivas do setor representa desafio para o governo e a sociedade, de acordo com o engenheiro Fernando Peregrino

Fruto de uma longa discussão entre integrantes do governo federal e representantes do setor produtivo, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) tem o objetivo de deslanchar um processo de neoindustrialização do país. É uma oportunidade única para não só estancar a desindustrialização ocorrida nas últimas décadas, como de elevar a participação do setor industrial na economia, adensando as cadeias produtivas e criando empregos de qualidade. Para explicar as diretrizes dessa iniciativa, o engenheiro Fernando Peregrino, atual chefe de Gabinete da FINEP, participou do Encontros com Tecnologia, do Clube de Engenharia.

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Fernando Peregrino. Crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado

Sob a coordenação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), o documento foi apresentado em janeiro deste ano, oficializando uma nova política para o setor que terá desdobramentos nos próximos dez anos. É, portanto, mais do que uma inciativa de um governo, é uma nova estratégia de desenvolvimento que tende a ultrapassar o mandato do atual presidente Lula. 

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O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a ministra da Gestão, Esther Dweck. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As novas diretrizes estabelecem metas agrupadas em seis missões, que envolvem os setores de infraestrutura, moradia e mobilidade, agroindústria, complexo industrial de saúde, transformação digital, bioeconomia e transição energética, além de tecnologia de defesa. Através dessas missões, estão previstos investimentos que visam o cumprimento das metas. Além de mudanças na legislação para se reforçar a participação de produtos nacionais nas compras governamentais, há também a necessidade de se reformular a política de ciência e tecnologia, a fim de dar maior sustentação às metas.

O engenheiro Fernando Peregrino ressaltou não só a importância desse novo direcionamento, como destacou o quanto ele vem sendo moldado de forma democrática. A participação de trabalhadores e empresários em conjunto com autoridades políticas é um modelo que procura não só submeter as propostas a uma discussão crítica, como tem o potencial gerar maior coesão em torno desses objetivos.

 “É um plano que diz respeito a 21 ministérios. As discussões envolveram também associações de empresários, como a Confederação Nacional da Indústria, bem como de trabalhadores. Ao todo foram 42 entidades públicas e privadas que se uniram para formular esse programa. Não é apenas um programa do tipo top-down, é sobretudo horizontal e democrático”, afirmou Peregrino.

Conforme Peregrino explicou, apesar de em outras épocas o país já ter vivenciado experiências de estímulo à industrialização, há desta vez uma visão não só mais ampla como voltada para o longo prazo. Esse diferencial pode ser fundamental principalmente quando se fala da questão do desenvolvimento tecnológico. Há notórios exemplos de desafios de engenharia vencidos pelo país no passado, como o caso da construção da Ponte Rio-Niterói, por exemplo. No entanto, grande parte dessas conquistas foi  alcançada a partir de demandas isoladas, não criando uma sistematização de inovação e desenvolvimento tecnológico virtuoso.

Outro aspecto que pode dar ao programa maior fôlego e capacidade de transformação é o fato de ele estar sendo iniciado numa fase em que a própria economia mundial passa por uma transformação mais radical. A maior importância que o planeta está dando às questões ambientais e a imensa riqueza do território nacional são fatores que podem impulsionar diversas atividades ligadas à bioeconomia e estimular a produção de energia através de fontes renováveis. 

“Aqui começa a bioeconomia, a descarbonização, a transição e a segurança energética. O Brasil precisa aproveitar seus recursos naturais, não de uma forma predatória. Precisa preservar seus biomas, não só o da Amazônia, como o do Cerrado e os demais. A bioeconomia fomenta isso, ao estimular a descarbonização da produção”, ressaltou Peregrino.

Essa bioeconomia se relaciona com a indústria na medida em que a agricultura familiar, que tanto contribui para o abastecimento interno, carece de equipamentos. Enquanto essa atividade pode ganhar em produtividade, as fábricas se beneficiam com  um mercado muito mais amplo, ao fornecer para esses produtores rurais.

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Proteção aos biomas como o da Amazônia está no programa. Crédito: Creative Commons

Peregrino também destacou no programa a importância que está sendo dada ao fortalecimento do complexo industrial da saúde. Ele citou diversos exemplos da precariedade desse segmento no Brasil, que ficou mais evidenciada durante a pandemia. Diante de uma situação como aquela em 2020, insumos básicos como luvas, máscaras e aventais desapareceram dos estoques e não havia no Brasil quem os fabricasse.

“É uma indústria simples, mas praticamente não tínhamos esse tipo produção no Brasil. Quase tudo era importado da China e durante a pandemia, além da demora, muitos carregamentos ficaram bloqueados em Miami”, contou Peregrino.

Como o engenheiro bem ressaltou, a nova industrialização não  se faz necessária em detrimento de outras atividades, como a mineração. A extração mineral é fundamental para a produção de motores e baterias dos carros elétricos que cada vez mais estarão circulando nas ruas. As riquezas naturais brasileiras, tão cobiçadas, também precisam de um forte sistema de defesa e a recuperação dessa indústria voltada para a proteção do território e da soberania é outra vertente a ser explorada.

Conforme destacou o vice-presidente do Clube, Márcio Patusco, mais do que a disponibilização de recursos, o programa precisa de uma execução muito bem coordenada que distribua as verbas corretamente e que tenha  efetivo controle sobre sua aplicação. É um trabalho de gerenciamento que nem sempre é feito corretamente, causando consequências danosas, como no caso de fundos da área de telecomunicações que não têm um bom aproveitamento.

“Há a necessidade de se colocar pessoas adequadas, principalmente gerentes de desempenho para fazer o controle e a destinação desses recursos”, alertou Patusco.

Peregrino admite que o gerenciamento é delicado, mas que há um esforço enorme por parte do governo para evitar falhas, tendo em vista também a amplitude da estrutura envolvida. O melhor antídoto contra qualquer emperramento do programa, entretanto, depende da cobrança e da participação da sociedade. Entender que é o momento de investir numa nova industrialização é a chave do sucesso desse processo que tende a beneficiar o Brasil como um todo.

Assista aqui ao programa Encontros com Tecnologia:

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