Físico alemão proferiu conferência na sede do Clube de Engenharia, em 1925, onde explicou sua então polêmica Teoria da Relatividade

O físico alemão Albert Einstein (1879-1955) proporcionou ao Clube de Engenharia um episódio histórico, durante sua visita ao Rio de Janeiro, em 1925. A sede da entidade, que ainda era um prédio em estilo neoclássico da então Avenida Central (atual Rio Branco), foi palco de uma palestra científica do autor da Teoria da Relatividade, no dia 6 de maio daquele ano. 

O acontecimento foi registrado na Revista do Clube de Engenharia, que destacou o fato de a entidade ter composto junto com a Escola Politécnica e a Academia de Ciências uma comissão para recepcionar o já mundialmente famoso cientista. Aos 46 anos, Einstein já era consagrado, apesar de sua teoria mais famosa ainda ser bastante obscura para quase toda a humanidade. Tanto que o Prêmio Nobel de Física concedido a ele em 1922 foi por uma descoberta de menor importância: o efeito fotoelétrico.

Mas o clima no Rio era de festa para recebê-lo. Einstein passou uma semana em terras cariocas durante um tour pela América do Sul, que incluiu a Argentina e o Uruguai. Havia muita curiosidade sobre suas ideias e o salão do Clube ficou lotado, mas com uma plateia não necessariamente ligada ao campo científico. 

A Revista registrou o encontro que Einstein teve com o então presidente da República, Artur Bernardes, e com o então prefeito da cidade, Alaor Prata. “As tres conferencias realizadas no Club de Engenharia, na Escola Polytechnica e na Academia de Sciencias foram por tal fórma concorridas que constituíram verdadeiros acontecimentos, despertando geral curiosidade e interesse, como provam eloquentemente não só a desusada concurrencia, como ainda a controversia de opiniões emanadas de esclarecidos adeptos e de competentes adversários da doutrina da “Relatividade”, pregada pelo sábio professor, e que tem despertado a attenção de todo o mundo pensante, que cogita do que há de mais elevado na philosophia, na mathematica, na astronomia e na physica”, relatou a publicação.

A revista também contou como foi a passagem por outras instituições do Rio, como o Museu Nacional e o Hospital Nacional de Alienados. A comissão colocou à disposição do físico grande parte da atividade científica que era desenvolvida na então capital da República, o que teria encantado o cientista alemão, ao contrário do anedotário que muitas vezes se sobrepôs aos fatos.

“Além de seus agradecimentos, feitos de viva voz da maneira mais calorosa e captivante, o professor teve a gentileza de dirigir ao presidente da comissão de recepção, para que o transmitisse aos seus colegas de missão, um gentilíssimo telegramma, que foi respondido pela radio-telegraphia para lhe ser entregue a bordo do “Cap Norte”, ao sair das aguas brasileiras, por via da estação nacional de Olinda”, registrou a revista.

A palestra de Einstein no Clube ocorreu depois de uma agenda bastante agitada. Em seu diário, registrou o fato de ter sido um pouco atrapalho pelo barulho que vinha da rua, mas conseguiu falar sobre a Teoria da Relatividade usando o idioma francês, utilizando um quadro negro para escrever, numa conferência que durou mais de uma hora.

A generosidade do cientista que ajudou a difundir o conhecimento no território brasileiro difere em muito de outros viajantes que, principalmente no século XIX, mais recolheram dados sobre as riquezas naturais do país do que deixaram aqui contribuições para o florescimento da ciência. O exemplo de Einstein fica a lição de um homem que não só revolucionou a física, como combateu preconceitos e defendeu a paz.